Pular para o conteúdo principal


RECULUTA DA CANÇÃO CRIOULA
Onde os baguais se encontram

30 anos de História

Os Festivais de Músicas Tradicionalistas começaram a ser realizados no Rio Grande do Sul na década de 1970, quando surgiu o Movimento Nativista. O primeiro Festival de Música Nativista do Rio Grande do Sul foi promovido pelo Centro de Tradições Gaúchas Sinuelo do Pago, em Uruguaiana, e ficou conhecido pelo nome de Califórnia da Canção Nativa. Estes festivais se constituem num movimento cultural, com objetivo de incentivar o talento de poetas, compositores, instrumentistas, intérpretes e artistas em geral que buscam a inspiração na tradição regional, baseando-se em seus ritmos, temas, costumes e na sua história. Isto desperta enorme interesse por parte de todos os apreciadores da Cultura Gaúcha, seja participando das competições, seja como espectador.
Na Cidade de Campo Bom, em janeiro de 1982 durante a apresentação dos trabalhos do XXVII Congresso Tradicionalista, o então Ministro da Educação e Cultura Rubem Carlos Ludwig colocou como um de seus principais desafios o desenvolvimento de formas populares de produção e consumo de bens culturais. Este campo, na atualidade, continua sendo um desafio e é um dos que mais busca investimentos, pois promove a cultura regional num âmbito global, principalmente nesta Era em que a internet através das redes sociais tem se mostrado um poderoso meio de comunicação e organização sociocultural. No recanto do planeta que for, se lá estiver um gaúcho que cultive suas raízes, lá estará representado, pelos costumes e através da canção nativa, todo o orgulho de ser gaúcho.
Raízes Cancioneiras
Na década de 1980 existiam, no Rio Grande do Sul, cerca de 60 festivais de música nativa, atualmente existem cerca de 40. Estes festivais nativistas têm caráter de resistência à modernização do canto e inserção de instrumentação moderna. A essência destas festividades é justamente resgatar a canção “Crioula”, mantendo as raízes históricas das mesmas, inspiradas na natureza, na lida do campo e na figura clássica do Gaúcho.
Uma comunidade inteira mobilizada, é isso o que representa um festival da canção crioula, ou seja, a busca do povo na apropriação da identidade nativa. Palcos foram abertos, talentos consagrados, surgiram grandes clássicos, consolidando assim o cenário da música rio-grandense.
Ideias de inserir novos ritmos e novas técnicas surgiram na busca de revolucionar e modernizar a música nativa, mas a aceitação popular não foi positiva, e se preferiu manter a tradição. Surgiu neste contexto a Reculuta da Canção Crioula
Em 1981, nasceu a ideia de promover um festival de música nativista em Guaíba, durante a tertúlia na Praça Gomes Jardim na Semana Farroupilha, onde se apresentavam o grupo Os Andejos, composto por José Cláudio Machado, Dorval dias e Eloadir Quevedo.
Da conversa entre alguns cidadãos e o grupo Os Andejos, surgiram os primeiros traços do perfil deste festival. Entre muitas sugestões, a de José Cláudio Machado foi a mais aceita e o festival ficou então denominado “Reculuta da Canção Crioula”. O termo ‘reculuta’ desenvolvido na lida campeira significa reunir todo o gado, e Guaíba queria reunir todos os músicos amantes das raízes campeiras. Um motivo justo para a escolha do nome.
Determinou-se que a primeira edição deste festival aconteceria durante a Semana do Município em Outubro de 1982, e seria realizado junto com a Festa Campeira promovida pelo Centro de Tradições Gaúchas Gomes Jardim. O espaço para a realização, foi cedido pelo Sindicato Rural, onde também ficaria o acampamento Reculuta, naquele ano. O evento foi um marco na cultura guaibense e realizou-se entre 14 e 17 de outubro de 1982, tendo como seu primeiro presidente o Sr. Gaston Leão. Os três dias de apresentação aconteceram no Ginásio de Esportes Ruy Coelho Gonçalves (Coelhão), os troféus e cartazes foram idealizados pela comunidade e desenhados por Miriam Leão. A preparação da comunidade aconteceu em forma de conferências em Escolas, no CTG Gomes Jardim, e na Paróquia Nossa Senhora do Livramento onde estudou-se a história de nossa música.
A partir da primeira edição, pretendeu-se realizar anualmente o festival e, em 1984, teve sua 2ª edição. As edições que se seguiram passaram por muitas adversidades, mas sempre aconteceram e fizeram jus ao lugar de destaque que tomou, incluindo-se entre os mais autênticos e destacados festivais do Estado, sendo considerado um dos mais importantes eventos culturais de nossa comunidade.
Dadas as dimensões que o festival passou a ter, surgiu então a Associação Cultural Reculuta (ACR), que em protocolo de 10 de agosto de 1989, ganhou registro oficial no Ministério da Cultura, passando a estar inscrita no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas de Natureza Cultural, o que legitimou ainda mais o movimento nativista na cidade, tendo como seu primeiro presidente César Almir Cattani. A sede da Associação localizava-se num antigo barracão da beira do Lago Guaíba na Avenida João Pessoa, bem no final da Rua São José, construção que já não existe mais.
Depois da 16ª edição da Reculuta, que aconteceu entre 07 e 09 de dezembro de 2001, o município ficou sem promover o festival, voltando em 2006 com a 17ª edição. Em setembro de 2007, ocorreu a 18ª edição do evento e, depois disto, novamente a cidade deixou de ver grandes shows nativistas inseridos nos festivais. Alguns artistas que se destacaram em festivais durante estes 30 anos, apresentaram-se neste ano de 2011 na Mostra Reculuta durante a Semana Farroupilha, tais como: José Cláudio Machado, Cristiano Quevedo, Luiz Marenco, Joca Martins e outros.
Em 2012, serão completos 30 anos desde a primeira Reculuta da Canção Crioula, que consagrou muitos nomes e muitas canções que ainda hoje são cantadas e reinterpretadas. Para comemorar, o município relembra a história e torce pela volta do festival com todo esplendor que merece.

TEXTO E PESQUISA:

Gislaine Costa da Silva Historiadora do Museu Municipal Carlos Nobre


FONTES:

Acervo do Museu Municipal Carlos Nobre

Acervo da Associação Cultural Reculuta



Artigo publicado no jornal Folha Guaibense em 2011.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Museu Carlos Nobre   Convida toda comunidade a visitar a exposição sobre os índios Guaranis e Kaingang que ocorrerá em abril de 2013. Prestigiem! Aguardamos a visitas de todos!  

O Museu Carlos Nobre

     O Museu Carlos Nobre é o Museu de Guaíba. Sua missão é preservar, pesquisar e comunicar o patrimônio material e imaterial do cidadão Guaibense. Atuando como local de memória, que estimula a reflexão histórica e a construção da cidadania.       Através das exposições de longa e curta duração ajudamos a contar um pouco da história de Guaíba.  Sala 1 - Histórias e Memórias de uma Casa      O Prédio onde hoje se localiza o Museu Carlos Nobre já foi Casa, Hotel e Prefeitura. Construído em 1908, na época em que Guaíba ainda fazia parte de Porto Alegre e chamava-se Pedras Brancas, foi testemunho de diversos período da nossa história recente.  Sala 2 - O prédio enquanto Prefeitura     Traças os desdobramentos deste prédio nos ajuda a compreender um pouco sobre a história dessa cidade. Por isso, apresentamos em nossa exposição de longa duração objetos que fizeram parte da história dessa casa e, portanto, de Guaíba.      O Museu Carlos Nobre está aberto de Segunda